A Onda é um filme alemão lançado em 2008 onde um professor, escalado para lecionar sobre autocracia, resolve apresentar na prática a formação de um sistema ditatorial em suas aulas. Durante este processo, vemos o impacto nos alunos, em suas relações internas e com outras pessoas da escola, família e cidade, incluindo o próprio professor.
O primeiro tópico a levantar é como o filme mostra o quão sedutor é pertencer a um grupo, mesmo que isso acabe reduzindo a força individual de cada um e distanciando a relação com quem não o pertence. Ainda mais tratando-se de jovens e adolescentes, período onde é muito fácil nos acharmos diferentes e rejeitados.
Outra questão abordada, que está atualizada com a própria situação atual brasileira, é a possibilidade de uma ditadura nos moldes do Nazismo acontecer novamente. O filme consegue retratar a facilidade em que elementos extremos podem ser apresentados de maneira inofensiva mas, que em seu conjunto e continuidade, podem transformar em algo realmente perigoso. A eliminação de pequenos grupos, definição de um inimigo comum (inicialmente o professor de Anarquia e depois todos aqueles que se opõem a Onda), aquisição de uniforme e cumprimento secreto aos poucos vão fazendo o grupo acreditar que eles são especiais e por consequência melhores daqueles que não fazem parte.
Ao analisar o impacto individual em cada personagem, o filme também acerta ao descrever de maneira crédula seus relacionamentos com a família e a predisposição para aceitar a transformação. Mesmo que para isso seja necessária a utilização de caricaturas e clichês, não nos sentimos ofendidos. A expansão do conceito d’A Onda para fora da sala de aula também foi desenvolvida de maneira natural, com destaques para a aceitação da Direção da escola, que se satisfaz com a organização, controle e disciplina dos estudantes envolvidos, incluindo a utilização de um evento esportivo para conquistar novos adeptos ao movimento.
Outro papel importante, que foi trabalhado de maneira muito boa, foi o envolvimento da mídia, representada através do jornal da escola. Tanto sua natural (e esperada) oposição a qualquer forma de sistema autocrático e de limitação da liberdade, quanto o próprio esforço do grupo em se proteger de qualquer ataque, mesmo que para isso utilize a censura (extravio e destruição dos artigos) quanto força bruta (limitação de acesso e participação). E o esforço que a aluna “repórter” tem para enfrentar o medo e ir contra sentimentos ou relacionamentos para sustentar sua posição e desejo de exposição e luta contra a ditadura que está sendo formada em sua classe é admirável.
Também muito bem apresentada, é a evolução do professor que inicia o filme com o desejo de ensinar Anarquia e mais informal, tanto pelo modo de vestir quanto ao se relacionar com os alunos, os quais ele permite que o chame pelo primeiro nome e não por senhor (Herr), mas que ao decorrer do filme se satisfaz com a atenção e respeito que atrai. Mostrando que muitas vezes nós mesmos não vemos até onde o tamanho do problema chegou e somente quando limites são rompidos percebemos que tragédias não podem ser evitadas ou corrigidas.
A Onda é um filme, que mesmo que tenha intenções mais de entretenimento do que didáticas, obrigatório para entender como é possível uma ditadura ser implantada e, mais ainda, como pessoas podem se atrair e permitir que isso aconteça.
Leia sobre nossa experiência de visitar o Museu de Sachsenhausen, um Campo de Concentração próximo a Berlim, capital da Alemanha.
Trailer do filme A Onda (Die Welle, 2008)
Experiência com o idioma alemão com o filme A Onda (Die Welle, 2008)
Depois da crítica do filme A Onda, vamos falar sobre minha experiência com a língua alemã. Eu fiquei bem feliz que consegui entender, além de palavras soltas, também a estrutura e construção gramatical de várias frases e diálogos. Ainda dependo muito, para não dizer completamente, da leitura das legendas para entender o que está acontecendo, mas a língua alemã não é mais uma incógnita para mim.
Outro ponto importante foi ver na prática as expressões de cumprimento e relacionamento sendo utilizados, tanto as formais quanto informais. Gostei bastante da utilização de “Hallo Schatz” (a dona da casa que alugo usa muito com minha filha) e “Alles OK bei dir?” (um cumprimento bem mais abrasileirado do que “Wie gehts dir?” ).
E que também tenho um longo caminho para formação do meu vocabulário, mesmo que este não esteja no zero.
Um ponto bem negativo é que em nenhum momento prestei atenção ou fui atraído para a utilização de artigos (os famigerados der, die, das e suas diferentes formas e impactos na declinação de adjetivos e construção da frase). E isso é bem importante para a fluência na língua.
Outra coisa que acabei não me atentando foi em relação ao tempo verbal ou uso de verbos modal e trennbare.
Sobre o reconhecimento da sociedade alemã na tela do que vejo no dia-a-dia, foi muito legal não achar mais estranho ou esquisito a quantidade de bicicletas na rua e estacionadas, a liberdade individual e respeito de cada um e mesmo a tranquilidade de uma cidade pequena. Mas o filme acaba retratando muito o relacionamento entre jovens em fase escolar e o próprio ambiente na escola, situações que não vivi.
Leia a crítica de outro filme alemão, As irmãs vampiras!
Cartaz do filme A Onda (Die Welle, 2008)
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